terça-feira, 27 de julho de 2010

Os Emos são pop

**a Pauta**
Numa lotação metropolitana, uma conversa entre três amigos, surge repentinamente o termo Emo, a palavra no contexto citado, continha um misto de preconceito e sarcasmo.


**o Ponto**

Eles são populares. Principalmente na Internet. Uma busca rápida pela rede e você pode encontrar mais de 4 milhões de itens relacionados. Mas, não é só na Internet que a palavra emo ganhou destaque. Fora dela, cada vez mais pessoas usam o termo para definir diferentes atitudes, trajes ou gosto musicais.

A palavra emo vem do termo EMOCORE, uma abreviação da expressão inglesa, emotional hardcore, um gênero de música derivado do punk. A idéia era que nesse novo gênero estivessem presentes as batidas mais agressivas do punk, só que com letras mais introspectivas e romantizadas, que falassem de sentimentos como o amor.

Porém, o novo descendente do punk gerou algo muito mais complexo do que apenas fãs de bandas emocores. Os emos são o que o autor Jeder Silveira Janotti Jr. da Universidade Federal da Bahia chama de Comunidades de Sentido, que consiste em grupos de jovens que compartilham interesses em comum, vivenciam gostos, valores e afetos, além de possuírem determinadas práticas de consumo. Logo, tantos outros grupos também se enquadram nessa definição sugerida pelo pesquisador, os skatistas, clubbers, punks e tantos outros.

No entanto, Janotti Jr. se atenta à maneira como essa vivência é compartilhada por esses jovens, atualmente, e afirma, “[...] manifestam-se obedecendo a determinadas produções de sentido em espaços desterritorializados, por meio de processos midiáticos que utilizam referências globais da cultura atual”. Em outras palavras, esses jovens usam a internet como mediadora de suas referências dentro dessa comunidade não-territorializada.

Sendo assim, a Internet seria uma ferramenta fundamental na composição da identidade desses jovens, já que ela funcionaria tanto como fonte na busca de referências quanto difusora das idéias e comportamentos desse grupo. Dessa forma, o diferencial dessa Comunidade de Sentido, os emos, para sua precursora, os punks, seria justamente o compartilhamento facilitado dos seus valores, pela Internet.

Com Internet ou não, é interessante pensar que de alguma forma ou de outra, todos já participamos de Comunidades de Sentido. Afinal, New Kids on the Block, Backstreet Boys, Spice Girls, Dominó e Menudo já foram grandes sucessos e influenciaram muitos adolescentes. E antes de criticar determinadas franjas ou trajes, vale a pena dar uma olhada no álbum de família, aposto que as roupas e os cabelos encontrados lá, além de fazer refletir um pouco antes de criticar, servirão também para pensar o quanto a identidade é realmente algo construído através de valores e comportamentos, mediados principalmente pelo meios de comunicação.



Referências Bibliográficas

Comunicação e cultura das minorias / Raquel Paiva, Alexandre Barbalho, (organizadores). São Paulo: Paulus, 2005.



sexta-feira, 9 de julho de 2010

A mulher no volante

*** a Pauta***
Durante o trajeto que faço para ir à Pós-Graduação, pela primeira vez peguei um ônibus que estava sendo dirigido por uma motorista. De dentro do coletivo, comecei a prestar atenção na reação das pessoas que estavam nos pontos de ônibus. Resultado: uma mulher dirigindo um ônibus faz com que muitas pessoas ainda observem com um olhar de estranheza, além de fazer muitos homens olharem a cena pela segunda vez, para terem certeza do que eles realmente viram.



*** o Ponto***

Apesar de, segundo a UNESCO, as mulheres representarem 70% da população mundial, elas são consideradas, por muitos teóricos, como minoria. Pode parecer algo paradoxal, mas aqui a idéia de minoria se refere à autonomia, expressão, ter voz, contra uma sociedade arraigada em pensamentos machistas.

Desde a década de 1960, com os movimentos feministas, a mulher tem caminhado para sua emancipação, mas não é algo repentino e sim, gradativo. Afinal, uma mulher dirigindo um ônibus metropolitano ainda causa desconforto em nossa sociedade. Segundo a Doutora em História Social, Ana Maria Dietrich: “o conceito de gênero é historicamente e culturalmente construído. Dessa maneira, fomos ‘ensinados’ que determinadas profissões são masculinas e outras femininas, assim como brincar de boneca é coisa de menina e de carrinho de menino”.

Graziele Fernandes é motorista de uma empresa de ônibus há 1 ano e meio e quando decidiu que trabalharia como motorista, assim como seu pai, o primeiro conselho que ele lhe disse foi: “tenha coragem, é preciso muita coragem”. Hoje, ela sabe o porquê desse conselho. A motorista, quando questionada sobre a aceitação dos passageiros, responde prontamente: “Muita crítica, muita cara feia, principalmente de mulher, e muito preconceito”.

Ao contrário do que poderia ser suposto ou esperado, Graziele sofre preconceito em seu trabalho por outras mulheres e contou que essas passageiras não falam nada, apenas olham com um olhar que já diz tudo. A socióloga Ana Paula Ramos afirma que, “o que causa nas mulheres um preconceito ou hostilidade ao ver outra ocupando um cargo geralmente masculino, é o machismo e num primeiro momento devido ao senso comum, depois vem a questão dos valores morais serem questionados, pois ainda é novidade. E talvez a questão da inveja. Afinal, a motorista é uma mulher conquistando um espaço novo”. A doutora em História Social, também complementa esse pensamento, “geralmente, a inveja é um sentimento entre iguais”.

A sócióloga Ana Paula Ramos ainda comenta sobre o machismo no universo feminino: “sociologicamente falando o machismo feminino é a maior barreira para as mulheres aceitarem outra no mercado de trabalho. E este sentimento está relacionado com a capacidade de questionamento sobre os valores morais impostos”. Dessa forma, é realmente necessário estarmos atentos aos nossos valores e sermos constantemente autocríticos, afinal, não adianta lutar por igualdade se, na verdade, não acreditamos nela.