sexta-feira, 9 de julho de 2010

A mulher no volante

*** a Pauta***
Durante o trajeto que faço para ir à Pós-Graduação, pela primeira vez peguei um ônibus que estava sendo dirigido por uma motorista. De dentro do coletivo, comecei a prestar atenção na reação das pessoas que estavam nos pontos de ônibus. Resultado: uma mulher dirigindo um ônibus faz com que muitas pessoas ainda observem com um olhar de estranheza, além de fazer muitos homens olharem a cena pela segunda vez, para terem certeza do que eles realmente viram.



*** o Ponto***

Apesar de, segundo a UNESCO, as mulheres representarem 70% da população mundial, elas são consideradas, por muitos teóricos, como minoria. Pode parecer algo paradoxal, mas aqui a idéia de minoria se refere à autonomia, expressão, ter voz, contra uma sociedade arraigada em pensamentos machistas.

Desde a década de 1960, com os movimentos feministas, a mulher tem caminhado para sua emancipação, mas não é algo repentino e sim, gradativo. Afinal, uma mulher dirigindo um ônibus metropolitano ainda causa desconforto em nossa sociedade. Segundo a Doutora em História Social, Ana Maria Dietrich: “o conceito de gênero é historicamente e culturalmente construído. Dessa maneira, fomos ‘ensinados’ que determinadas profissões são masculinas e outras femininas, assim como brincar de boneca é coisa de menina e de carrinho de menino”.

Graziele Fernandes é motorista de uma empresa de ônibus há 1 ano e meio e quando decidiu que trabalharia como motorista, assim como seu pai, o primeiro conselho que ele lhe disse foi: “tenha coragem, é preciso muita coragem”. Hoje, ela sabe o porquê desse conselho. A motorista, quando questionada sobre a aceitação dos passageiros, responde prontamente: “Muita crítica, muita cara feia, principalmente de mulher, e muito preconceito”.

Ao contrário do que poderia ser suposto ou esperado, Graziele sofre preconceito em seu trabalho por outras mulheres e contou que essas passageiras não falam nada, apenas olham com um olhar que já diz tudo. A socióloga Ana Paula Ramos afirma que, “o que causa nas mulheres um preconceito ou hostilidade ao ver outra ocupando um cargo geralmente masculino, é o machismo e num primeiro momento devido ao senso comum, depois vem a questão dos valores morais serem questionados, pois ainda é novidade. E talvez a questão da inveja. Afinal, a motorista é uma mulher conquistando um espaço novo”. A doutora em História Social, também complementa esse pensamento, “geralmente, a inveja é um sentimento entre iguais”.

A sócióloga Ana Paula Ramos ainda comenta sobre o machismo no universo feminino: “sociologicamente falando o machismo feminino é a maior barreira para as mulheres aceitarem outra no mercado de trabalho. E este sentimento está relacionado com a capacidade de questionamento sobre os valores morais impostos”. Dessa forma, é realmente necessário estarmos atentos aos nossos valores e sermos constantemente autocríticos, afinal, não adianta lutar por igualdade se, na verdade, não acreditamos nela.

Um comentário:

  1. Gostei do post, atualmente está cada vez mais dificil ver um texto bem escrito,bem argumentado e isento, principalmente ao falar da situação da mulher. Mesmo porque quando se fala de gênero e minoria hoje em dia se ostenta um certo machismo ao contrário, denominado de feminismo mas que está longe disse. O texto acima consegue se distanciar disso sem deixar de tratar de problemas importantes.Parabéns.
    Leonardo Nunes
    Estudante de Letras e Professor.

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