segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Lei da Palmada: convergências e divergências



** a Pauta**

Duas mulheres conversando no ônibus, uma delas era a própria  motorista do coletivo. Conversavam sobre família, filhos e de repente uma comenta da limitação que é educar um filho hoje já que não se pode mais nem bater nele por causa da  “Lei da Palmada”.


** o Ponto**

O projeto de lei  que ficou conhecido popularmente como a “Lei da Palmada” causou muita polêmica quando anunciado, dividiu opiniões e causou a revolta de muitos pais, que assim como as duas mulheres no ônibus,  se sentiram prejudicados e com seus direitos como pais e responsáveis lesados. Isso porque a Lei prevê a punição para qualquer tipo de castigo físico praticado contra crianças, independente da intensidade das agressões ou mesmo das desculpas para as mesmas. 

As divergências surgiram, primeiramente, pelo fato da lei interferir nas relações familiares, e a família, como todos nós sabemos, é uma instituição dificilmente penetrável  e que segue condutas próprias, essas que nem sempre condizem com a realidade imposta pelo restante da sociedade.
Por outro lado, a “Lei da Palmada” intervém em um costume que já faz parte da cultura de muitos brasileiros, afinal, a palmada é vista pela maioria das pessoas como um instrumento disciplinar, como algo intrínseco da educação.  Durante uma enquete que fiz como 10 pessoas, a maioria se mostrou contra a lei pelo fato de não considerarem a palmada uma agressão física e sim, algo necessário para educar seus filhos. Sei que essa amostra de apenas 10 pessoas  representa um número ínfimo, principalmente se pensarmos em nível nacional, mas mesmo assim, acredito que a opinião dessas pessoas reflete a da maioria dos brasileiros. 

            Se deixarmos nossa tradição de lado por um instante e refletirmos  um pouco sobre o assunto, possamos nos perguntar: qual é o verdadeiro fundamento de uma palmada? Particularmente, as raras palmadas ou chineladas que levei não me deixaram com traumas, mas, percebo que em muitos casos os pais fazem isso muito mais como um pretexto para aliviar uma raiva momentânea do que com o objetivo de realmente educar. Educação exige antes de tudo orientação, e é nessa hora que muitos pais falham.  

Além disso, ao conversar com uma amiga advogada sobre o assunto ela  disse que o projeto de lei é redundante, uma vez que já existe na constituição a lei contra a agressão física. Dessa forma, fica clara a ineficiência de nossas leis e de nossos legisladores. Leis não mudam os pensamentos, os costumes, a visão de mundo ou a forma de educar. Antes de se proibir deve-se explicar o porquê, deve-se orientar e tentar mudar.


sábado, 5 de fevereiro de 2011

Profissão: dona de casa

**A pauta**

Início da tarde, ônibus lotado. Um casal tinha uma discussão audível sobre os planos para o casamento, que pelo jeito estava próximo. O noivo sugeriu que a noiva saísse do emprego, que não era “lá essas coisas”, e ficasse por conto dos preparativos para a festa. Ela não ficou feliz com a idéia e o ônibus todo pode acompanhar a discussão...

**O ponto**

Não é de hoje que as mulheres trabalham fora de casa. Ter um emprego e trabalhar fora foi uma das maiores conquistas femininas do século XX. Aliás, uma conquista que começou como necessidade, e ainda há mais tempo. “As mulheres começaram a receber salários desde a Revolução Industrial (que teve início no século XVIII, na Inglaterra) . Entretanto, o trabalho feminino era menos valorizado que o trabalho masculino e a dupla ou tripla jornada de trabalho era uma realidade: as mulheres, além de trabalharem nas fábricas ainda eram (e são, grandemente) responsáveis pelo trabalho doméstico e pelo cuidado dos filhos.” É o que afirma a professora Daniela Rezende, do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Viçosa e que estuda os Gêneros.

A noiva do ônibus não aceitou a proposta do noivo. Mas a Elvira Leal sim. Em 1979 ela trabalhava em uma loja em Belo Horizonte. O seu então noivo fez a mesma sugestão – que ela saísse do trabalho, que não pagava bem, e que se dedicasse a cuidar do casamento e dos filhos que planejavam ter – e ela aceitou sem nenhum problema. De 1979 para 2011 algumas coisas mudaram, e Daniela Rezende acredita que é preciso considerar se de fato (cuidar da casa) é uma escolha, se as mulheres têm autonomia para escolher, ou se essa "escolha" pelo lar é um reforço de valores tradicionais, de imposições históricas à mulher, vistas como naturais.”. Elvira realmente viu a sugestão com naturalidade, mas também pensou bem antes de se decidir. “Eu trabalhava no comércio, longe de onde ia morar, recebia pouco e meu salário ia acabar indo todo para pagar alguém pra cuidar da casa. Ninguém me achou doida de largar o emprego, e eu não me senti mal, porque não fui obrigada a fazer isso.”

Hoje, seus filhos estão “criados”. E Elvira está aposentada. É isso mesmo. Ela foi dona de casa porque quis, e acredita que as mulheres que fazem essa opção devem procurar alguns direitos. Antes de aceitar a sugestão do futuro marido ela também lhe fez uma proposta: ele iria contribuir para a previdência social em nome dela, e sem reclamar. Agora ela pode gastar seu tempo e dinheiro com algumas coisas de que precisou abrir mão quando mais nova. Ela acha que o marido fez um ótimo negócio: “Ele não precisava se preocupar com quem estava tomando conta dos nossos filhos, da nossa casa, e eu também não. Se eu trabalhasse fora, ia ficar dividida. Eu fiz o que ele queria, mas também fiz minhas exigências”.

Esse “ficar dividida” entre o trabalho e a família pesa para muitas mulheres. Elas trabalham fora, mas quando chegam em casa ainda têm as “tarefas domésticas” para realizar. Para Daniela, isso é “uma sobrecarga para a mulher e indica que estamos longe de alcançar a igualdade entre os sexos. Se o trabalho doméstico e o cuidado dos filhos fosse distribuído entre homens e mulheres ele não representaria um peso para a mulher e essa escolha pela vida profissional não se apresentaria como uma ‘pressão.”

Apesar de não se arrepender da decisão, Elvira terminou nossa conversa dizendo que acha que as mulheres devem pensar muito antes de fazer o mesmo que ela. “Eu não tinha uma carreira, não ia crescer na profissão, e me sinto bem cuidando de casa. Mas fazer isso sem gostar ou abrir mão de um futuro profissional não me deixaria realizada e seria totalmente diferente.”

Formar uma família, ter uma casa e criar os filhos são tarefas que exigem muita dedicação. Algumas mulheres realmente se sentiriam bem apenas cuidando dos filhos, mas talvez alguns homens também se sentiriam assim. A conversa ouvida no ônibus me fez pensar: será que, caso a mulher tivesse um salário maior que o do homem, poderia ter feito a proposta contrária? Será que ele aceitaria com naturalidade a sugestão de sair do emprego dele para cuidar da casa? É uma pergunta que Daniela Rezende defende que todos se façam: “É a predeterminação de escolhas com base no sexo/gênero que deve ser questionada.”

E isso a Ana Paula já ouviu num outro ônibus ...


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quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

(Re)apresentação

Alguns meses já se passaram desde a apresentação do que seria o Pauta no Ponto, alguns meses também já se passaram desde a última postagem. É, 2010 já acabou e deixou idéias na cabeça, nenhuma câmera na mão e projetos pendentes, um deles seria a reativação do a Pauta no Ponto e sua atualização periódica.

Levando isso a sério, cá estou eu mais uma vez apresentando o a Pauto no Ponto. A matéria-prima do blog continua a mesma da primeira apresentação: as conversas nos ônibus. Porém, a novidade é que nosso itinerário aumentou, não estaremos apenas nos coletivos da capital paulista ou da Grande São Paulo. Agora, o a Pauta no Ponto também estará nos ônibus da capital mineira. Afinal, temos mais uma colaboradora, ou seria correspondente(?!), Mônica Bento, direto de Belo Horizonte.