segunda-feira, 25 de abril de 2011

Entre olhares e clichês

**a Pauta**

Era um fim de tarde quando duas pessoas entraram em um ônibus cheio na região central de São Paulo. Os constantes olhares, o riso contido me fez olhar novamente as pessoas, na tentativa de entender o que estava acontecendo. As duas mulheres altas e de cabelos longos que tinham acabado de entrar eram na verdade dois travestis.


**o Ponto **

Essa não foi a primeira vez que presenciei uma cena parecida com essa, dentro de outros coletivos ou mesmo nas ruas. Não é difícil perceber a reação das pessoas quando um travesti está por perto. Além do riso e dos olhares persistentes, em determinados momentos há reações mais extremas e exaltadas.

As pessoas que praticam as transformações de gênero criam e se autodenominam de diferentes formas. São vários os termos para as múltiplas identidades que permeiam esse universo. No entanto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um(a) travesti seria aquele(a) pessoa que age e se veste como o outro gênero, porém não quer fazer a cirurgia de mudança de sexo. Já os/as transexuais sentem a necessidade de fazer cirurgia por se sentirem pertencentes do outro gênero desde o nascimento.

Recentemente, o termo transexual esteve presente na grande mídia: a entrada de uma transexual no Reality show mais famoso do Brasil e o destaque de Lea T, modelo transexual e filha de um ex-jogador de futebol brasileiro serviram como norte para as discussões feitas na mídia. Entre clichês e entrevistas pingue pongue, o tema tem sido abordado majoritariamente de forma superficial, deixando a gravidade do assunto para poucos veículos retratarem.

Contudo, através da reportagem intitulada “Como mudar de sexo”, publicada na edição 43 da Revista Piauí, tive maior contato com o tema e pude conhecer mais sobre os conflitos psicológicos que os trans vivem. Aliás, essa reportagem se destaca pelo tipo de abordagem, onde personagens ilustram a realidade burocrática daqueles que dependem de hospitais públicos para mudar de sexo.

Apesar de sabermos que a mídia exerce papel fundamental na promoção de debates e reflexões de temas socialmente relevantes, precisamos entender que os debates não devem se esgotar nela. Isto é, existem assuntos que devem ser pensados muito além do que a mídia sugere, ou muito mais do que o espaço que ela designa. Afinal, o oposto da violência é o diálogo, a relativização do pensamento e a oportunidade de múltiplas vozes. 

Um comentário:

  1. Esse tipo de reação é realmente muito comum.
    Por mais que seja cada vez mais frequente ver transexuais nas ruas ainda é difícil encarar com naturalidade. Acho que ainda se tem pouca informação sobre o assunto, ou quando é abordado é sempre da mesma forma.
    Fiquei curiosa com a reportagem da Piauí, depois vou dar um jeito de ler.
    xx

    ResponderExcluir